Quando parecia que não havia mais revelações a fazer sobre as ilegalidades que envolvem as associações pró-construção, com todas as evidências legais mostrando os procedimentos irregulares realizados pelas empresas que desenvolvem esse tipo de negócio, colocando em risco o dinheiro investido pelas pessoas em empreendimentos arriscados. Isso ocorre porque essas empresas não seguem os trâmites legais civis conforme estipulado pela Lei de Incorporação, muitas vezes nem apresentando a documentação básica necessária para o desenvolvimento de empreendimentos na construção civil. Agora, um novo problema se confirma comas associações pró-construção: os recursos investidos pelas pessoas nesse tipo de negócio foram parar em uma pirâmide financeira que acabou de desmoronar.

Em uma entrevista concedida ao radialista Luiz Carlos Focca na quinta feira, o advogado e delegado aposentado da Polícia Civil, Gilberto Passos, admitiu que existe um problema envolvendo uma quantia exorbitante de R$ 54 milhões que desapareceu de uma empresa chamada JR Investimentos, que aparentemente estava ligada a outra empresa chamada Select. O advogado informou ao radialista que se trata de 54 milhões de reais, provenientes de centenas de investidores que entraram no negócio com promessas de lucros elevados.

Mais uma vez, nos deparamos com a história de pessoas sendo enganadas por esquemas de enriquecimento rápido que oferecem retornos financeiros altamente improváveis. Como economista, tenho dificuldade em acreditar em qualquer oportunidade que prometa rendimentos considerados impossíveis de alcançar no mercado, especialmente quando se trata de clubes de investimento. As informações sugerem que aproximadamente 430 pessoas perderam seu dinheiro investido na JR Investimentos.

A empresa, que supostamente atuava como intermediária de investimentos, deixou de prestar contas aos associados nos últimos meses, o que levou a várias denúncias contra a empresa e seu proprietário. Este é o segundo caso de pirâmide financeira que colapsa em Sergipe em menos de dois meses, totalizando um valor absurdo de mais de 100 milhões de reais. O aspecto mais preocupante disso tudo é que o advogado admitiu durante a entrevista que há dinheiro das associações pró-construção investido na empresa que desmoronou e enfrenta várias denúncias. Na entrevista, quando questionado pelo apresentador Focca, o advogado confirmou que houve aporte financeiro das associações pró-construção no esquema de pirâmide que desabou. Passos mencionou que esse investimento foi de “valor altíssimo” e repetiu essa afirmação quando perguntado sobre a participação da associação Condominial nos investimentos.

Desde 2018, esse investimento das associações já envolvia uma terceira empresa chamada Business, conforme ficou claro na entrevista. O advogado destacou que o objetivo do contrato entre a JR Investimentos e a Select era atrair clientes interessados em investir ou captar recursos para projetos no setor imobiliário. Isso agrava ainda mais a situação.

A suposta finalidade das associações pró-construção deveria ser a construção de empreendimentos a preço de custo, pelo menos de acordo com as próprias empresas envolvidas. No entanto, ao utilizar os recursos dos participantes para investir em esquemas financeiros suspeitos, desvirtuam se desse propósito original em busca de ganhos financeiros para si próprias.

Isso nos faz questionar se as pessoas que investiram nessas associações tinham conhecimento dessa mudança de foco. Se não tinham, agora estão cientes da maneira mais dolorosa possível: perderam seu dinheiro em um investimento que foi direcionado para uma pirâmide financeira que desmoronou. Meu principal objetivo como economista é alertar as pessoas para que não caiam em armadilhas, realizem suas compras no comércio regular e saibam como investir seus recursos com segurança e garantia de preservação do dinheiro.

Sempre aconselhei, quando consultado, que os consumidores evitem se envolver em promessas de lucros extraordinários, pois isso não existe em nenhum mercado financeiro no mundo. Não vou repetir advertências que já fiz no passado, como sobre o contrabando, a segurança privada irregular, o seguro ilegal e os jogos de azar, entre outros. No entanto, é crucial que os consumidores compreendam que o pior problema é ver todo o dinheiro conquistado ao longo de uma vida desaparecer devido à ingenuidade e ganância de acreditar que terão lucros fora do comum no mercado. Além disso, é triste ver o sonho da própria moradia desmoronar junto com uma pirâmide financeira que desabou e levou os recursos dos investidores.

O mercado regular é o único que oferece garantias de segurança para o seu dinheiro, para as construções, para a qualidade dos produtos e para a proteção proporcionada pelo seguro. Qualquer coisa fora disso não pode oferecer a mesma segurança. Portanto, seja inteligente e não se deixe enganar por pessoas que ostentam uma vida de luxo, pois por trás disso podem estar muitas pessoas sofrendo com a perda de seus recursos, e em casos extremos, até mesmo suas vidas, como no caso de um jovem que tirou a própria vida após perder todo o seu dinheiro em investimentos em criptomoedas que desapareceram repentinamente. Se você deseja investir, procure um banco ou uma corretora de confiança. Se quer comprar algo, vá a uma loja de varejo e adquira produtos regulares. Para proteger seus bens, consulte um corretor de seguros. Para preservar sua vida e seu patrimônio, contrate uma empresa de segurança legítima. Se deseja realizar o sonho da casa própria, compre imóveis apenas por meio do sistema de incorporação.

MARCIO ROCHA
JORNALISTA E ECONOMISTA